A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é caracterizada por dor ou desconforto abdominal crônico e hábitos intestinais alterados (diarreia, constipação ou ambos). A fisiopatologia (causas) ainda não é completamente compreendida, no entanto, acredita-se que a combinação de vários mecanismos – entre eles as intolerâncias alimentares – estejam relacionados ao desencadeamento dos sintomas.
Com relação às intolerâncias alimentares, nos últimos anos, a dieta de restrição dos carboidratos rapidamente fermentáveis conhecidos como FODMAPs (Fruto-oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis) tem despertado a atenção dos pesquisadores. Estudos sugerem a redução dos sintomas e a melhora na qualidade vida dos pacientes que realizaram, de forma correta, o protocolo de restrição desses alimentos.
Na prática clínica, 3 fases compõem esse protocolo.
- Fase de exclusão – orienta-se a retirada completa de todos os alimentos que compõe esse grupo (Tabela 1). A duração dessa etapa varia entre 2 a 6 semanas e dependerá da análise – por parte da Nutricionista e do Gastroenterologista – do estado nutricional do paciente, das patologias associadas a SII e dos medicamentos utilizados em paralelo.
- Fase de testes: após a finalização da primeira etapa, inicia-se a reintrodução – de forma gradativa – dos alimentos fontes de FODMAPs. Essa etapa será fundamental e indispensável para a identificação dos gatilhos alimentares (alimentos associados ao desencadeamento dos sintomas).
- Fase de fechamento do protocolo –análise de quais foram as intolerâncias alimentares e o planejamento de uma estratégia alimentar – com restrição ou exclusão desses itens – que contemple todos os nutrientes sem esquecer do sabor e do prazer durante as refeições.
Apesar da aparente simplicidade do protocolo e da acessibilidade das tabelas com as fontes dos FODMAPs na internet, algumas considerações precisam ser feitas a fim de evitarmos o auto tratamento e, por consequência, complicações indesejadas.
1. A dieta de restrição dos FODMAPs deverá – impreterivelmente – ser orientada e supervisionada por um(a) Nutricionista. A presença desse profissional garantirá um aporte adequado de nutrientes, através da elaboração de um cardápio individualizado.
2. Não existe uma padronização dos gatilhos (= alimentos associados aos sintomas), ou seja, cada paciente terá as suas próprias intolerâncias. Um erro comum é a retirada precoce – sem orientação do Gastroenterologista e/ou da Nutricionista – de determinado alimento, após ter lido na internet ou ter conversado com algum amigo.
3. A restrição dos fermentáveis não garantirá a cura da SII. Na grande maioria dos casos, os pacientes referem uma redução significativa dos sintomas, porém, existe uma parcela (10-15%) que não responde satisfatoriamente a esse protocolo.
4. Essa estratégia nutricional não tem por objetivo ganho ou redução de peso, o intuito é descobrirmos quais são os gatilhos alimentares para cada paciente.
A restrição dos FODMAPs a curto prazo é apenas uma, entre outras estratégias nutricionais, para auxiliar no tratamento dos pacientes com SII. Apesar dos resultados positivos e encorajadores, ela não é indicada para todos os pacientes, incluindo os com doenças inflamatórias intestinas (Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa) e necessita da orientação e supervisão de especialistas.
Referências:
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Elaboração do material:
Nutricionista – Lilian Bassani – CRN:42738
Doutora e Mestre em Medicina – UFCSPA
Especialista em Nutrição Clínica – UNISINOS
Especialista em Nutrição Esportiva – UGF