Consumo de alimentos ultraprocessados e Doenças Inflamatórias Intestinais

O alto consumo de alimentos ultraprocessados pode estar envolvido na patogênese das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII). Alimentos ultraprocessados são formulações industriais produzidas inteiramente ou majoritariamente por substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido e proteínas), ou derivadas de seus constituintes (gorduras hidrogenadas, amido modificado), ou sintetizadas em laboratório (aditivos alimentares).  

O aumento da prevalência global da Retocolite Ulcerativa (RCU) e da Doença de Crohn (DC) sugere que o os fatores genéticos têm um papel menor que o esperado e os fatores ambientais, em especial a dieta ocidental, podem ser responsáveis por este fenômeno.

Estudos retrospectivos mostram a associação da ingestão pré-doença de nutrientes específicos, como gorduras, carboidratos e proteínas com a RCU. Ressalta-se que os ingredientes dietéticos nas dietas ocidentais não estão limitados aos “componentes naturais” listados acima, mas principalmente ao aumento do consumo de aditivos alimentares, como adoçantes, emulsificantes, espessantes, conservantes e corantes.  

Em um estudo prospectivo e multicêntrico, envolvendo 401.326 homens, inicialmente saudáveis, não encontrou associação entre carboidratos na dieta total, açúcares [monossacarídeos e dissacarídeos], ou ingestão de amido e as chances de desenvolver DC ou RCUI.  Em contrapartida, D’Souza e colaboradores avaliaram o padrão alimentar de crianças canadenses e identificaram uma dieta rica em frutas e legumes [dieta prudente] como proteção para DC, enquanto a “dieta ocidental parcial” aumentou o risco para esta doença. 

Diante do contexto apresentado, destaca-se a importância da realização de estudos longitudinais que avaliem o risco do consumo de alimentos comercialmente processados e o aumento da prevalência de DII.


Figura 1- Diferença entre alimentos in natura, processados e ultraprocessados segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014)

Referências Bibliográficas:

SIGALL-BONEH, R. et al. Research Gaps in Diet and Nutrition in Inflammatory Bowel Disease. A Topical Review by D-ECCO Working Group [Dietitians of ECCO], Journal of Crohn’s and Colitis. V.11, n.12, December p. 1407–1419. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira: promovendo a alimentação saudável / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

Cristina Henschel de Matos
Nutricionista  CRN10 – 0408
Especialista em Fitoterapia FITO/010 – CRN10
Mestre em Engenharia de Produção – PPGEP/ UFSC
Professora do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
Integrante do Ambulatório Interdisciplinar de Doenças Inflamatórias Intestinais/UNIVALI

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