O GEDIIB publica posicionamento oficial sobre a Consulta Pública n. 106 da CONITEC, sobre a incorporação do Golimumabe para o tratamento de pacientes adultos com retocolite ulcerativa moderada a grave, com resposta inadequada ou intolerantes às terapias convencionais.
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O golimumabe já apresenta aprovação na ANVISA para uso na retocolite ulcerativa (RCU) desde abril de 2018.
A eficácia do golimumabe nos pacientes com RCU ativa moderada a grave refratários a esteróides e/ou aminosalicilatos e/ou tiopurinas foi estabelecida pelo estudo PURSUIT. Todos os pacientes eram virgens de anti-TNF. Os pacientes que mostraram resposta a terapia de indução na semana 6, seguiram no tratamento de manutenção, que também mostrou a superioridade do golimumabe em relação ao placebo na remissão livre de corticoide na semana 54.
Outros estudos conduzidos em cenários de “vida real” confirmaram a eficácia do golimumabe no tratamento da RCU. Tanto em pacientes virgens de tratamento quanto naqueles que falharam a outras terapias anti-TNF. Em um desses trabalhos, os resultados demonstram uma redução significativa na atividade clínica, bioquímica e endoscópica da doença, bem como um efeito poupador de esteróides em pacientes com doença previamente refratária. Em outro estudo, a taxa de permanência de uso da medicação em 1 ano foi de 63%, sugerindo a eficácia da medicação nesse período. Chama atenção também que o golimumabe não mostrou diferença na resposta clínica entre virgens ou previamente expostos a outro anti-TNF. Esse fato indicou que o golimumabe poderia ser usado como terapia anti-TNF de primeira linha, bem como para resgatar pacientes falhados a outras medicações dessa classe. Ademais, as diretrizes da AGA e ECCO recomendaram o uso do golimumabe na RCU moderada a grave.
Um fato a favor de medicamentos com mecanismo de ação sistêmica como são os anti-TNFs é de eles serem indicados em portadores de DII com manifestações extraintestinais (MEI). As MEIS podem acometer de 6 a 47% dos portadores de Crohn e RCU. A sacroileíte, episclerite, uveíte, eritema nodoso e pioderma gangrenoso são exemplos de MEIS que podem ter benefício com a utilização do golimumabe no tratamento da RCU, devido a sua ação sistêmica.
Quando avaliada a imunogenicidade do Golimumabe, estudo mostrou que a proporção de pacientes que mantiveram a resposta no tratamento de manutenção, na semana 54, e eram positivos para anticorpos anti-droga foi menor do que os negativos para estes anticorpos (38,1% x 52,8%). Outro estudo que avaliou a imunogenicidade dos Anti-TNFs, mostrou que todos produzem anticorpos anti-droga, porém em escalas variáveis, de acordo com a molécula. Entre os avaliados o golimumabe foi um dos que desenvolveu menor porcentagem de anticorpos (3,8%) e o infliximabe a maior (25,3%).
Um outro ponto positivo à incorporação é a perda de resposta. É estimado que a taxa de perda de resposta aos anti-TNF ocorra entre 10 a 15% ao ano. Seria importante incluir outros agentes da mesma classe, principalmente naqueles pacientes que responderam satisfatoriamente ao anti-TNF e perderam resposta ao longo do tempo. Além disso, não é incomum a interrupção do tratamento devido a eventos adversos. Reações alérgicas relacionadas aos anti-TNF são descritas em 5 a 8%, o que pode levar a interrupção do tratamento e consequente necessidade de substituição por outro agente da mesma classe. Outras justificativas para a incorporação do Golimumabe seriam:
▪ é de uso subcutâneo o que favorece a auto aplicação e consequente melhor adesão ao tratamento
▪ por ser de uso subcutâneo, não necessita de centros ou unidades de infusão para ser administrado
▪ mesmo sem termos números concretos, muitos relatos de vida real de diversas regiões do Brasil, nos mostram deficiência de centros de infusão públicos, levando pacientes que residem no interior a percorrer grandes distâncias para receber tratamento endovenoso
Para finalizar gostariamos de argumentar que o Golimumabe possui PDP aprovada pelo Ministério da Saúde para atender 100% da demanda de Mercado e a mesma já encontra-se em execução desde setembro de 2020. Este seria mais um motivo para a incorporação desta medicação, sendo que em 2030 sua produção será 100% nacional.
Mediante ao exposto, e a possibilidade do golimumabe ser mais um agente anti-tnf disponível, o GEDIIB entende que que este imunobiológico é mais uma opção de tratamento para o paciente com retocolite moderada a grave que não apresenta resposta ao tratamento convencional, antes de considerer a colectomia total ao indivíduo portador de RCU. Diferente da recomendação incial da CONITEC que considerou desfavorável a incorporação com a justificativa de não ver benefícios deste medicamento frente ao já disponível no SUS, reafirmamos que a opção de um segundo anti-tnf impactará de maneira positiva o tratamento dos pacientes com RCU no Brasil e vai de acordo com os posicionamentos internacionais descritos acima.
Referências:
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- Sandborn WJ, Feagan BG, Marano C, et al. Subcutaneous Golimumab Maintains Clinical Response in Patients with Moderate-to-severe Ulcerative Colitis. Gastroenterology. 2014; 146:96-109
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